Na natureza, os recifes de coral, são o lar uma vasta diversidade de espécies. Esta diversidade, leva a que haja uma intensa competição entre espécies pelo espaço e recursos. De forma a aproveitar ao máximo os escassos recursos e/ou evitar os seus predadores, muitas espécies desenvolveram interessantes simbioses. E, talvez não surpreendentemente, são estas fascinantes simbioses que atraem muitos aquariofilistas para o hobby.
Formas de Simbiose
A maioria das pessoas lembra-se do termo “simbiose” das suas aulas de biologia, mas, para aqueles que já não vêm uma sala de aula à algum tempo, deixamos aqui uma breve descrição. Uma definição de simbiose é “associação a longo prazo entre dois organismos de espécies diferentes”, ou, coloquialmente “duas espécies que vivem juntas”.
Uma simbiose pode ocorrer de três formas. A mais conhecida forma de simbiose é o mutualismo, na qual as duas espécies beneficiam da simbiose. As outras formas são o comensalismo (na qual uma espécie beneficia, e a outra não é prejudicada ou favorecida) e o parasitismo (na qual uma espécie beneficia, e a outra é prejudicada).
Peixe-Palhaço/Anémona
Uma das imagens mais famosas do oceano é a simbiose entre os peixe palhaço e as anémonas, em parte graças as filme da Disney “Finding Nemo”. Na natureza, encontramos os peixe-palhaço, vivendo dentro da protecção dos tentáculos das anémonas. Sem esta protecção, estes seriam presas fáceis para qualquer predador que se encontrasse pelo recife. Em troca por esta protecção, os peixe-palhaço (com o seu comportamento agressivo, apesar da sua pequena dimensão) afastam espécies que poderiam estar tentadas a se alimentar da anémona. Existem também reportórios de que estes transportam alimento para a anémona.
Pterapogon Kauderni/Diadema Setosum
Uma simbiose igualmente fascinante à do peixe-palhaço e anémona é a do peixe Pterapogon Kauderni e o ouriço-do-mar de espinho longo Diadema Setosum. Pensasse que seja comensalismo, pois apenas os peixes Kauderni beneficiam desta relação. Tendo uma coloração preta e branca, permite que o peixe se camuflage perfeitamente entre os longos espinhos pretos da Diadema Setosum, no qual estes se escondem, assim que se sintam ameaçados. E, mesmo que sejam identificados pelos predadores, os aguçados espinhos venenosos irão, provavelmente, dissuadir o predador do seu possível alimento.
Uma das maiores vantagens desta simbiose em aquariofilia, é que, tanto os Pterapogon Kauderni, como os Diadema Setosum são bastante resistentes e adaptam-se facilmente às condições de um aquário. É necessário precaução no entanto, pois os ouriços-do-mar podem se alimentar de algumas espécies de invertebrados, podendo não ser adequada a todos os aquários de recife. Também há que ter em atenção a que os espinhos venenosos podem infligir uma picada dolorosa, pelo que é recomendado um cuidado especial ao manusear esta espécie de ouriços-do-mar.
Gobys/Camarão Alpheus
Nesta simbiose, tanto o peixe (Amblyeleotris, Cryptocentrus, entre outros), como o camarão (da família Alpheus) ocupam o mesmo esconderijo, sendo que espécies específicas de gobies vivem associadas a certas espécies específicas de camarões.
O goby permanece na entrada para o esconderijo, guardando e vigiando esta, e alertando o camarão em caso de perigo eminente. O camarão, sendo, para todos os efeitos, cego, mantém-se sempre em contacto com o seu “parceiro” com as suas antenas. Ao primeiro sinal de perigo, ambos se retiram para o esconderijo.
De forma a recrear esta simbiose em aquário, é necessário saber o par correcto de espécies de goby e alpheus, e providenciar um substrato suficientemente profundo (pelo menos 5 cm) para a existência do esconderijo e consistido por areia fina.
É de se fazer notar também que o nome comum dos camarões alpheus, camarão pistola, é justificado, uma vez que estes possuem uma pinça modificado que produz um potente som, usado para imobilizar as suas presas, que pode ser ouvido, até a alguma distância do aquário.
Caranguejo Decorador/Esponjas do mar
Os caranguejos decoradores (da fámilia Majoidea, da qual nem todos são decoradores), use materiais do seu ambiente para se camuflarem ou se protegerem de predadores. Estes removem partes de esponjas para cobrir a sua concha como camuflagem. As esponjas continuam a viver sobre o caranguejo, filtrando como normalmente o fariam em qualquer outra superfície.
O caranguejo beneficia das toxinas inerentes da espécie de esponja escolhida, e alimenta-se das algas que possam crescer à volta desta. A esponja beneficia de maior quantidade de alimento devido à maior exposição a este, dada à mobilidade permitida pelos movimentos do caranguejo.
Caranguejo Ptychognathus Barbatus/Anémona
Os caranguejos Ptychognathus Barbatus são pequenos crustáceos que, em cada garra, carregam uma pequena anémona. Ao carregarem estas anémonas, podem as usar para capturar pequenas presas, agarrar pequenas partículas de alimento, e se defenderem de predadores (usando a picada da anémona). Em retorno a anémona recebe pequenas quantidades de alimento, e a possibilidade de ser propagada pelo caranguejo. Caso não encontre uma anémona, o caranguejo pode usar pólipos de corais ou esponjas do mar, até conseguir trocar estes por anémonas.
Caranguejo Trapezia / SPS
Tipicamente encontrados em Procillopora ou Acropora, os caranguejos Trapezia providenciam extensivos serviços de limpeza e afastam potenciais predadores. Em retorno o caranguejo recebe alimento do seu hospedeiro e protecção de peixes predadores.
Camarão Periclimenes Imperator/Pepino do mar
Um exemplo de uma relação de comensalismo, na qual o camarão beneficia, e o pepino não é prejudicado, nem favorecido.
Quando o camarão Periclimenes Imperator encontra o pepino do mar, irá utilizar este como método de transporte, sendo que apenas “desembarcará” para se alimentar (quando o alimento escasseia), “embarcando” de volta quando acabar. Por vezes, a sua relação pode ser considerada mutualismo, uma vez que o camarão pode remover algas e parasitas do pepino.
“Equipas de Limpeza”
Uma forma de simbiose (mutualismo) é exibido por uma variedade de organismos de água salgada, como as wrasses, gobies, e, camarões. Algumas espécies, incluindo certos peixes anjo e peixes borboleta, possuem este papel de limpeza, mas só enquanto juvenis.
Vários recifes possuem “estações de limpeza” estabelecidos, onde várias espécies congregam de forma a fornecer os seus serviços, e, onde várias outras espécies são “limpos” de parasitas e tecido morto. Grandes peixes predadores podem até suspender os seus instintos naturais de alimentação, e permitir que estas equipas de limpeza entrem em suas bocas sem a ameaça de os ingerirem.
Um exemplo desta simbiose em aquariofila são os camarões Lysmata Debelius, Lysmata Amboinensis, e Lysmata Werdemanni. Todos estes exibem o seu papel de equipa de limpeza, em espécies de peixes, de alguma forma. Estes camarões irão também rapidamente se adaptar ao alimento disponibilizado ao aquário, como mysis, Artémia ou até mesmo flocos. Os aquariofilistas podem até confirmar que estes crustáceos podem até mesmo subir para a mão do aquariofilista (fazendo o seu papel de limpeza) se colocada dentro do aquário.