A parte essencial ao começar um aquário de água salgada é o planeamento. Deve-se pensar no tipo de animais, tamanho do aquário, equipamento e decorações. Uma vez elaborado um plano, montar o aquário é relativamente simples. Embora possa demorar algum tempo, no fim, qualquer aquariofilista dirá que valeu a pena a espera. Deve-se também fazer nota que a manutenção requer uma mistura de pesquisa e prática, e recomenda-se que iniciantes escolham peixes/corais mais resistentes quando começam, e não se acanhem de fazer perguntas/pedir conselhos.
Um aquário de água salgada gigante, não está à disposição de todas as carteiras, pelo que, com base no seu orçamento, deve procurar quais as dimensões do aquário ou até mesmo o tipo de animais que melhor se adequam para garantir um aquário com uma qualidade aceitável.
O ambiente marinho contém algumas das criaturas mais belas no nosso planeta, e traze-las até nossa casa/trabalho cria um autêntico espectáculo.
Aqui ficam alguns conselhos para quem está a começar na aventura da aquariofilia de água salgada:
A primeira coisa a fazer é planear o setup ideal, para que o processo seja mais facilitado. Deve-se ter uma ideia do tipo de peixes/corais e tamanho disponível para o aquário, uma vez que estas decisões vão influenciar tudo o resto. Um aquário que contenha só peixes ou só corais, necessitam de condições diferentes. Por isso deve escolher que tipo de aquário prefere, se um só com peixes, peixes e corais, só corais (podendo ser um aquário especializado em SPS, LPS, moles ou até mesmo de só uma espécie), só cavalos-marinhos, só camarões ou medusas. Os aquários mais comuns são os rectangulares, não podem ser usados com medusas, uma vez que estas necessitam de aquários sem cantos. Outra nota importante é que não se usam aquários tapados em água salgada, devido ao aumento da temperatura, dificuldade de iluminação e à dificuldade de oxigenação (acumulação de CO2) que isso acarretaria.
Recomenda-se o uso de uma sump que é um reservatório que funciona como uma extensão do aquário (não é fundamental mas é muito útil). Existem muitos aquários de sucesso sem sump. A sump permite esconder o equipamento para não estar no aquário principal, fazer decantação dos sedimentos, tornando mais fácil a sua remoção por aspiração e aumenta o volume de água. Também há casos de aquariofilistas que aproveitam uma parte das sump para fazer um refúgio.
Um refúgio é um local, geralmente mais pequeno, partilhando a mesma água do aquário principal, onde se pode criar pequenos microrganismos, como pequenos crustáceos, que servem de alimento aos peixes e corais, quando são arrastados para o aquário principal pela água de escoamento. No refúgio pode-se também cultivar algas que nos permitem remover nutrientes indesejáveis como os nitratos e fosfatos. Os refúgios não são indispensáveis, mas ajudam.
Se optar por ter uma sump (recomendado), pode-se furar o aquário no fundo, no meio ou a um canto e fazer uma coluna seca (caixa de vidro à volta do furo com um “pente” por cima por onde escoa a água) para que a camada superficial da água decante libertando-se da película de óleo e poeiras que vemos á superfície dos aquários sem sump. A altura da coluna seca vai determinar a altura, da água no aquário, e, dar protecção para, no caso de falha na electricidade, a água do aquário não baixar para além da coluna seca.
As colunas secas tendem a fazer barulho quando a água escoa mas isto pode ser atenuado através da construção de um Durso. No caso de não querer coluna seca, pode-se furar o aquário em cima, colocando um “pinha” de protecção. Em qualquer dos casos o furo de saída deve ter pelo menos 40mm, idealmente 50mm, e, em aquários grandes, deve-se fazer mais do que um. Caso não se queira ou não se possa furar, também se pode colocar um “ overflow”.
Aquários de pequena dimensão são mais susceptíveis à perturbação do equilíbrio do seu ecossistema. Quanto maior o aquário, menos susceptível será a pequenas variações nos parâmetros, e consequentemente, na teoria, de mais fácil manutenção. Aquários de maior dimensão permitem espécies de peixes que necessitem de mais espaço, sendo que a sua desvantagem são os elevados custos, por exemplo em termos de iluminação e rocha viva.
Mesmo que o aquário seja novo, recomenda-se que se lave. Não use sabão ou produtos de limpeza, pois resíduos destes produtos podem danificar a qualidade da água posteriormente. Pode-se usar um pano/papel molhado de modo a retirar qualquer pó/partículas. Um aquário usado pode ser mais difícil de limpar. Também se pode usar vinagre para limpar o interior e exterior do aquário. Aquários de acrílico, podem riscar facilmente, pelo que se deve usar um tipo específico de pano.
Antes ou depois da limpeza, deve-se verificar o aquário para quaisquer vazamentos. Para o fazer, deve-se encher o aquário com água, deixando-o cheio cerca de 1 hora, verificando depois pela existência de qualquer vazamento.
Antes de encher o aquário, posicione no local escolhido, uma vez que depois de cheio, este vai ser muito mais pesado. Tenha cuidado para que, a superfície, onde coloca o aquário, aguente o peso do seu aquário cheio.
Depois de cheio, coloque o substrato (que tenha escolhido previamente), sendo que pode passar o substrato por água doce para retirar poeiras. O substrato tem uma função decorativa, química e biológica. Serve de suporte para fixação das bactérias nitrificantes (oxidam a amónia e os nitritos em nitratos) nas camadas superficiais e desnitrificantes (reduzem os nitratos) nas camadas mais profundas anaeróbicas. Coloque uma pequena camada de substrato, gentilmente, no fundo do aquário, tendo atenção para não o riscar. Organize o substrato como entender, quer uniformemente, quer com zonas mais elevadas, sendo que se recomenda um mínimo de 2 cm de espessura. A camada de areia pode ser de apenas 2 ou 3 cm ou então uma DSB (deep sand bed), ou seja, uma camada de areia profunda, superior a 7,5 cm para explorar melhor a capacidade de desnitrificação. Tendo atenção que nas DSB, não se deve remexer o substrato de modo a não contaminar a água, uma vez que devido à sua espessura acumulam, por exemplo, amónia. É recomendado manter as camadas superficiais desta areia mexida através do uso de animais detritívoros, como pequenos búzios, ofiúros, camarões e pequenos crustáceos.
Coloque água de osmose (reverse osmosis/de-ionized (RO/DI), comprando na loja, ou investindo em um filtro RO/DI.
Todo o equipamento que queira utilizar no sistema inicial, deve ser colocado neste momento. Praticamente todos os aquários necessitam de um filtro, e a maioria de aquecimento. Recomenda-se o uso de equipamento como esterilizadores, iluminação, Skimmers. Deve-se usar um ou dois termostatos que assegurem cerca de 0,5 W por litro (normalmente é suficiente em Portugal), sendo que a temperatura ideal na maioria dos aquários é entre os 24-26 graus Celsius (mas note que a temperatura depende do tipo de espécies que pretende no aquário). Deve instalar o aquecimento no lado contrário ao que tenha colocado o termómetro, tendo assim uma medição mais consistente da temperatura do aquário. Para refrigeração recomenda-se o uso de um refrigerador para aquários.
Existem vários tipos de filtração, sendo estas a filtração mecânica, química, biológica, externa e pelo escumador. Filtros externos não são usados em aquários de recife, a não ser para uma filtração química, com carvão e esponjas de fosfatos. Para filtração mecânica, não é usado, geralmente, esponjas ou lã de vidro (podem ser usadas mas devem ser limpas ou substituídas, pelo menos uma vez por semana, para não reter matéria orgânica, impedindo-a de chegar ao escumador). A filtração biológica é assegurada pela rocha viva e areia do substrato, não sendo necessárias bio-bolas e cerâmicas adicionais (excepto em aquários com apenas peixes, com pouca rocha viva, onde a sua utilização é recomendada). Não se pode esquecer que o escumador é uma peça fundamental num aquário de água salgada, retirando a matéria orgânica, antes que esta se transforme em amónia. O escumador é um equipamento que mistura a água e o ar a grande velocidade, produzindo microbolhas que adsorvem a matéria orgânica, fazendo subir a espuma carregada de lama, numa coluna de água, dentro câmara do escumador, para um copo que se vaza regularmente. A água salgada, devido à sua tensão superficial permite a formação desta espuma. Isto é um efeito semelhante ao que observamos quando o mar está agitado, e se forma a espuma que se deposita na praia. O escumador é também um dos mais potentes oxigenadores da água.
De forma a “imitar” as correntes e fazer com que a água passe pela rocha viva e substrato varrendo os sedimentos e transportando-os até ao escumador deve-se usar as “wave makers “ ou a bombas electrónicas pulsáteis (em função das necessidades do aquário). A agitação da água permite também a sua oxigenação, fomentado as trocas gasosas à superfície. A circulação recomendada é a de 10 a 30 vezes o volume de água do aquário. Deve-se ter em atenção a que os aquários de corais SPS requerem mais circulação e os corais moles e LPS têm como preferência uma circulação mais moderada. Tendo em atenção estes factos, tem que se colocar os corais conforme as suas preferências.
Equipamentos não essenciais, mas que podem ser usados são por exemplo, o reactor de cálcio (aparelho que permite adicionar cálcio e carbonatos à água que são consumidos pelos corais . A sua utilização justifica-se em aquários grandes com muitos corais duros, necessita CO2 para dissolver o carbonato de cálcio) e osmose inversa (aparelho que permite purificar a água da companhia usada para fazer a água salgada e para repor a água evaporada . em muitos locais do país a água da companhia tem excesso de nitratos, fosfatos, silicatos e ate metais pesados que deterioram a qualidade da nossa água).
Depois de instalado todo o equipamento, coloque o material decorativo e as rochas. A rocha viva serve como filtro biológico do nosso aquário, decoração, local de esconderijo para os peixes e o suporte no qual colocarmos os nossos corais. O material decorativo e as rochas têm que ser curadas à parte num recipiente com muita circulação e escumador.
A base do aquário está agora pronta, mas as suas condições ainda não estão aceitáveis para receber peixes. Deve-se agora ciclar o aquário. O objectivo aqui é permitir que culturas de bactérias se estabeleçam, bactérias estas, que atuam como filtro biológico (Ciclo de nitrato). Normalmente é usado rocha viva (que já contêm culturas desenvolvidas), para estabelecer as bactérias. Testando regularmente a água do aquário, deve-se verificar um pico nos valores da amónia, seguido de outro de nitritos. Assim que estes valores cheguem a 0, o ciclo esta concluído. Este processo demora cerca de 6-8 semanas. De modo a acelerar este processo, pode-se subir a temperatura ou níveis de oxigénio, ou adicionar água com culturas já estabelecidas.
Assim que o aquário esteja ciclado, pode adicionar alguns peixes. Recomenda-se que não adicione muitos ao mesmo tempo, pois vai arriscar o ciclo de nitrogénio.
Os peixes são sensíveis a mudanças de parâmetros da água, por isso ao colocar os peixes no aquário deve-se aclimatizá-los.
Observe os peixes nas 24 horas seguintes para verificando se estão saudáveis. Alguns aquariofilistas quarentenam novos peixes durante algum tempo, antes de os adicionar ao aquário principal. Isto pode prevenir a introdução de doenças.
Manutenção
- TPA’s – trocas parciais de água. Cerca de 10 a 20 % da água de 15 em 15 dias.
- Limpeza de vidros- Uso de um íman e/ou raspador de algas.
- Limpeza do copo do escumador- 1 ou 2 vezes por semana
- Testes
- Troca do carvão e da esponja de fosfatos - Conforme os testes, a cor e turvação da água.
Valores químicos médios de um aquário de água salgada e testes
- Amonia – devem estar a 0
- Nitritos- devem estar a 0
- Nitratos – não devem exceder 10 mg /l no aquário de recife
- Fosfatos- devem ser inferiores a 0,03 mg / lt
- Alcalinidade ou kH – deve ser superior a 3,5 meq ou a 7-8 kH
- PH – deve estar entre 8 e 8,5
- Cálcio- deve ser superior 400-420 mg/l
- ORP ou Potencial redox – deve ser superior a 250mv
- Densidade - entre 1,024-1,027